segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O Absurdo


 A ideia do absurdo parte do filosofo e escritor Albert Camus, que explorou o absurdo em diversas obras principalmente em: A Peste, e, O Mito de Sísifo.

É a primeira formulação teórica da noção de absurdidade, isto é, da tomada de consciência pelo ser humano, da falta de sentido ou, portando, do sentido absurdo de sua condição. 

o “homem absurdo” é o que enfrenta lucidamente a condição – e a humanidade – absurda. 


Em outras palavras o absurdo é aquilo que escapa aquilo que está no intangível, na ordem do indizível.

Há no absurdo uma pulsão de morte, aquilo que não pode ser simbolizado. Aquilo que pertence ao real que vai muito “além do principio de prazer”.

Derrida discorre em sua obra bastante desta desconstrução. Em seu texto chamado “Freud e a cena da escritura”, O filósofo serviu-se da psicanálise para pensar de que forma surge o simbólico, de que forma o não simbólico desemboca no simbólico. No modelo das máquinas e aparelhos freudianos, o inconsciente é uma escritura que se tece de diferenças, de trilha-mentos, e envia, delega representantes mandatários compreendidos a posteriori.


 A escritura é a possibilidade de instituir, de inscrever. A palavra analítica, o ato do sujeito falar para um outro que o reenvia ao eco de sua própria voz, é um trabalho da escritura psíquica. Por isso segundo o filósofo, Freud teria representado o conteúdo psíquico por um texto de essência irredutivelmente gráfica: a estrutura do aparelho psíquico é como uma máquina de escrever que se lê de uma arquiescritura sinaliza a condição da possibilidade da própria significação enquanto torna-se signo do traço. 

Para Derrida, que se alinha ao Freud preocupado com o enraizamento do não-simbólico, a repetição está desde o início, mas não é nunca repetição do mesmo. Na origem, apenas ausência, vazio.

“Movimento do Mesmo em direção ao Outro que não retorna jamais ao Mesmo.” (Derrida)


Camus o escreveu no começo da segunda guerra mundial. Porém ele não se detém ao problema da guerra e a rejeita radicalmente nas entrelinhas, fazendo do “homem absurdo” o último a poder aceita-la ou a compactuar com suas aberrações.

“A grandeza mudou de campo. Ela está no protesto e no sacrifício sem futuro”.  (Camus)


Camus contou com enormes precursores, que foram ao fundo do desenvolvimento moderno – Como Nietzsche, Dostoiévski, Proust, Kierkegaard, Kafka. E chega aos desdobramentos das revoluções de Darwin, Marx, Freud, Einstein. 


Ao mesmo tempo que o “homem absurdo” se exprimiu em toda sua verdade na literatura, no teatro e em outros campos ou vertentes da arte e do pensamento de: Jorge Luis Borges e a dramaturgia teatral de autores como Beckett, Ionesco, Genet, Pinter, Albee, Arrabal – e tantos outros escritores contemporâneos. 


O Teatro do Absurdo


No "Teatro do Absurdo" não há narrativas lineares, não há privilégio de uma trama, a história não é importante porque reduzida a uma cena com imagens, concretas e poéticas. Há como que uma tentativa de fixar, numa única imagem, o sentido total da existência. As situações parecem estranhas, pois são colocadas, mesmo as mais familiares e quotidianas, em esdrúxulos contextos que as tornam incompreensíveis. As condições mais simples são hiperdimensionadas e, por outro lado, trivializam-se aspectos sérios.

Não importam muito as posições sociais e o contexto histórico

dos personagens que são, a um só tempo, cultas, bem informadas, mas se comportam como se fossem insensíveis, mecânicas e idiotizadas. 


O automatismo de gestos, atitudes, comportamentos, culmina por apresentar o indivíduo alienado em atos e linguagem. Ponto relevante para a psicanálise,

a questão da linguagem revela, em seus diálogos, a impossibilidade de comunicação. Embora deteriorada, automatizada e insuficiente, a linguagem revela-se indispensável para pretender recobrir o vazio da solidão.··.


O diálogo é opaco, vazio e a linguagem parece apontar para si mesma, sem transparência ou lógica discursiva. A função poética predomina com um

jogo de imagens, sublinhando o engessamento das expressões convencionais e esvaziando osentido. (Mendes, 1995/6)


Ao lado disso, evidencia-se a sátira aos costumes, à sociedade, às convenções de toda sorte. É um novo conceito do trágico e do cômico. Neste tipo de

convenções-contravenções existe uma atualização do "nonsense"

reafirmando a função econômica do cômico.


O "non-sense" ressalta a alienação entre a linguagem e a ação, apontando o tempo inteiro para a impossibilidade de comunicação.


O "non-sense" se propõe a esvaziar as palavras do seu valor, para confirmar a dificuldade de comunicação e a alienação do homem na linguagem. A situação

paralisada do cenário visa representar o homem na sua inação.


As personagens parecem atuar como se tivessem um pacto - firmado entre si. Têm um código, ao qual o espectador não tem acesso - fazem-se alusões

constantes a algo que nunca é a coisa-em-si. 

É o teatro da alusão e não da ilusão, porque o momento dramático parece circular, voltando, invariavelmente, ao início; a curva dramática não é bem definida.


Melhor dizendo, é o teatro do desejo que não sendo respondido, retorna sempre ao ponto de partida, para recomeçar, numa busca incessante. Quanto ao "non-sense", surge de repente como o próprio inconsciente, no correr do discurso consciente, aflorando, inesperadamente, no tropeço, lapso ou claudicação.


O "non-sense" é a possibilidade da fenda, do surgimento do inconsciente.


Além disso, é a impossibilidade da linguagem para o sujeito, no entanto, a sua única saída para a inserção na comunidade dos falantes e na sociedade.

Sua pseudo-autonomia de sujeito assegurada pela sujeição ao código da linguagem, falha, insuficiente e incapaz de lhe permitir exprimir-se integralmente. Permitindo, no não dito, a verdade inalcançável.


Esta nova dramaturgia desmascara a linguagem expondo a desconexão, mostrando como as palavras e conceitos que elas evocam nos são familiares, porém, o contraste, a elipse, uma premeditada descontinuidade aliada ao improviso não lhes permite alcançar o sentido convencional.


Desse modo, os autores criam um mundo próprio, auto-suficiente pretendendo relacionar abstrações linguísticas que criam, com a essência da condição humana, abordando temas como a solidão, o silêncio, o tempo, a impotência e a sensação de abandono.

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