quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

- A vida matou o meu personagem.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Autobiografia

Eu era de plástico. Era frágil, mas, não como os seres humanos. Não tinha sentimentos, e filosofava o tempo inteiro; Era muda, movia-me apenas com ajuda alheia. Estava presa em mim. Era como se houvesse uma barreira de vidro entre mim e o mundo, e ninguém poderia adivinhar o meu segredo. Eu enxergava...

Morria muitas vezes - a morte em si era sempre igual. Mas, como o material reciclável que sou, voltava sempre diferente. Por isso eu tinha medo da morte, medo do que me tornaria numa próxima vida. Já tivera sido muitas coisas. Teve uma época em que fui uma garrafinha de refrigerante, foi quando me senti mais próxima de uma família, onde eu estava no centro da mesa e, sentados a minha volta, estavam avô e avó, tia e primos. E todos esperavam muito de mim, afinal eu era uma garrafa de coca-cola de dois litros, muito embora comentassem que a outra da garrafinha de vidro tinha um sabor melhor.

Lembro-me de ter sido também uma cadeira de escritório, mas, talvez o mais difícil tenha sido ser uma daquelas seringas de hospital. Foi a primeira vez que eu causei pavor e dor em uma vida alheia. Tempo difícil aquele...

Assistia coisas pela T.V., e o que há de pior na minha situação é que nem sempre você pode enxergar as coisas pelo melhor ângulo. Fico, então, da forma como fui deixada - às vezes de lado, ou de costas, ou até de cabeça para baixo. Dormir é impossível: estou sempre acordada para tudo, embora, muitas vezes, gostaria apenas de fechar os olhos.

Às vezes as palavras podem conotar algum sentimento, mas, acredite, eu não os tenho.

E então, agora, há um ser humano pensando ser o meu dono - pensa mesmo. É que ele não entende nada de ecologia.

Ele conversa comigo às vezes. Até pensei que sabia o meu segredo. Enganei-me, pois logo notei que ele não compreendia nada. Apenas falara pela solidão que sentia, mas já não faz mais isso há algum tempo. Eu ficava então com a tv, via romances em novela, filmes da sessão da tarde. As noticias na tv faziam-me ter a certeza de que eu era mesmo apenas um pedaço de plástico, que eu não compreendia os humanos em nada.

Às vezes o meu dono me deixa de lado, em um canto empoeirado ao lado da sua escrivaninha. Às vezes me pega e me coloca na cama dele, e estou lá de pernas abertas e a boca vermelha. Sim, eu sou uma dessas bonecas infláveis de sexshop.

Autobiografia

Eu era de plástico. Era frágil, mas, não como os seres humanos. Não tinha sentimentos, e filosofava o tempo inteiro; Era muda, movia-me apenas com ajuda alheia. Estava presa em mim. Era como se houvesse uma barreira de vidro entre mim e o mundo, e ninguém poderia adivinhar o meu segredo. Eu enxergava...

Morria muitas vezes - a morte em si era sempre igual. Mas, como o material reciclável que sou, voltava sempre diferente. Por isso eu tinha medo da morte, medo do que me tornaria numa próxima vida. Já tivera sido muitas coisas. Teve uma época em que fui uma garrafinha de refrigerante, foi quando me senti mais próxima de uma família, onde eu estava no centro da mesa e, sentados a minha volta, estavam avô e avó, tia e primos. E todos esperavam muito de mim, afinal eu era uma garrafa de coca-cola de dois litros, muito embora comentassem que a outra da garrafinha de vidro tinha um sabor melhor.

Lembro-me de ter sido também uma cadeira de escritório, mas, talvez o mais difícil tenha sido ser uma daquelas seringas de hospital. Foi a primeira vez que eu causei pavor e dor em uma vida alheia. Tempo difícil aquele...

Assistia coisas pela T.V., e o que há de pior na minha situação é que nem sempre você pode enxergar as coisas pelo melhor ângulo. Fico, então, da forma como fui deixada - às vezes de lado, ou de costas, ou até de cabeça para baixo. Dormir é impossível: estou sempre acordada para tudo, embora, muitas vezes, gostaria apenas de fechar os olhos.

Às vezes as palavras podem conotar algum sentimento, mas, acredite, eu não os tenho.

E então, agora, há um ser humano pensando ser o meu dono - pensa mesmo. É que ele não entende nada de ecologia.

Ele conversa comigo às vezes. Até pensei que sabia o meu segredo. Enganei-me, pois logo notei que ele não compreendia nada. Apenas falara pela solidão que sentia, mas já não faz mais isso há algum tempo. Eu ficava então com a tv, via romances em novela, filmes da sessão da tarde. As noticias na tv faziam-me ter a certeza de que eu era mesmo apenas um pedaço de plástico, que eu não compreendia os humanos em nada.

Às vezes o meu dono me deixa de lado, em um canto empoeirado ao lado da sua escrivaninha. Às vezes me pega e me coloca na cama dele, e estou lá de pernas abertas e a boca vermelha. Sim, eu sou uma dessas bonecas infláveis de sexshop.