sábado, 24 de janeiro de 2009

Autobiografia

Eu era de plástico. Era frágil, mas, não como os seres humanos. Não tinha sentimentos, e filosofava o tempo inteiro; Era muda, movia-me apenas com ajuda alheia. Estava presa em mim. Era como se houvesse uma barreira de vidro entre mim e o mundo, e ninguém poderia adivinhar o meu segredo. Eu enxergava...

Morria muitas vezes - a morte em si era sempre igual. Mas, como o material reciclável que sou, voltava sempre diferente. Por isso eu tinha medo da morte, medo do que me tornaria numa próxima vida. Já tivera sido muitas coisas. Teve uma época em que fui uma garrafinha de refrigerante, foi quando me senti mais próxima de uma família, onde eu estava no centro da mesa e, sentados a minha volta, estavam avô e avó, tia e primos. E todos esperavam muito de mim, afinal eu era uma garrafa de coca-cola de dois litros, muito embora comentassem que a outra da garrafinha de vidro tinha um sabor melhor.

Lembro-me de ter sido também uma cadeira de escritório, mas, talvez o mais difícil tenha sido ser uma daquelas seringas de hospital. Foi a primeira vez que eu causei pavor e dor em uma vida alheia. Tempo difícil aquele...

Assistia coisas pela T.V., e o que há de pior na minha situação é que nem sempre você pode enxergar as coisas pelo melhor ângulo. Fico, então, da forma como fui deixada - às vezes de lado, ou de costas, ou até de cabeça para baixo. Dormir é impossível: estou sempre acordada para tudo, embora, muitas vezes, gostaria apenas de fechar os olhos.

Às vezes as palavras podem conotar algum sentimento, mas, acredite, eu não os tenho.

E então, agora, há um ser humano pensando ser o meu dono - pensa mesmo. É que ele não entende nada de ecologia.

Ele conversa comigo às vezes. Até pensei que sabia o meu segredo. Enganei-me, pois logo notei que ele não compreendia nada. Apenas falara pela solidão que sentia, mas já não faz mais isso há algum tempo. Eu ficava então com a tv, via romances em novela, filmes da sessão da tarde. As noticias na tv faziam-me ter a certeza de que eu era mesmo apenas um pedaço de plástico, que eu não compreendia os humanos em nada.

Às vezes o meu dono me deixa de lado, em um canto empoeirado ao lado da sua escrivaninha. Às vezes me pega e me coloca na cama dele, e estou lá de pernas abertas e a boca vermelha. Sim, eu sou uma dessas bonecas infláveis de sexshop.

17 comentários:

  1. Você deveria mesmo escrever mais vezes.
    :)

    :*

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  2. Texto muito bom, o final então, será que eu ri? Escreva mais moça, lerei atenciosamente. Bjo! ;*

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  3. ei fikow massa, c tem umas viagens legais, gostei da onda da coca-cola. Na verdade gostei do que você fez de se comparar a objetos e contextualizá-los... o final ficou massa, algo bukowskiano ahaha conhece charles bukowski? se n conhece acho que ia gostar dele... fui ^^

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  4. oLÁ...gostei daqui, estou te linkando lá no meu blog tá moça!

    Lindo texto!!!

    Apareça!

    Bjs :)

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  5. A garota das palavras, semi, presas...

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  6. Tbm gostei do texto, parabéns!!

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  7. poxa que massa!!! adorei o texto!!! no começo pensei que era um segredo de um cachorro mas agora o final foi... IRADO!!! amei moça!!! escreve mais !! bjs linda!

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  8. O final tem um punchline fantástico, te aplaudo!

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  9. Achei o texto bem interessante...
    gostei da forma como vc se coloca como objeto. Se compara a uma coca-cola no centro da mesa pra mostrar o quanto se sentia queria no tempo que era o centro das atencoes mesmo sabendo que gostavam mais de outra...
    O final entao... mostrando uma esperança sutil por alguem que vc dava(ou da) valor e que depois ve que como a maior parte das pessoas fazem com as outras... so queria te usar como um objeto sexual...
    essa foi minha interpretação
    :)

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  10. que delirante... vai fundo, pois vai virar uma escritora e tanto.
    jardel
    jardeldias1@hotmail.com

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  11. Estive acompanhando seu tópico na Comuna de Cinéfilos e acabei vindo parar aqui. Excelente história.
    Meus parabens!

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  12. Interessante demais as palavras e a ideia exposta aqui. Ajuda-me a pensar ainda mais no que eu já pensava.

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  13. Adorei o texto. Biografia da mulher artificial padronizada do século XX e XXI. Será que vamos demorar muito pra escapar desse beco?
    Ah, incrível aquela sua foto com o chapéu do Chaplin, me lembrou demais a Sabina, minha alma-gêmea literária, personagem de um livro do Kundera; por isso não resisti e vim comentar. =)

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  14. Desculpa a sinceridade mas você escreve mal pra cacete!
    Tem uns erros de regência verbal que deveriam ter sido corrigidos à época do Ensino Fundamental; você pontua de maneira equivocada, usa letra maiúscula no meio da frase, depois de ";", não sabe usar reticências.
    Mas a pior de todas foi: "Era como se houvesse uma barreira de vidro entre mim e o mundo."
    Entre EU e o mundo ou, entre o mundo e EU. Mas esse mim aí, "Cara Pálida", está "mim" matando!
    Uma gramática URGENTE para você! Acrescente o capítulo: "regência nominal" à lista já citada acima!
    Gramática urgente² em francês! "Cê" tá mal, viu?! O verbo quitter tem 2 "Ts": ne me quiTTE pas! Também vi algo como "alphaiate" que você "insinuou" ser francês. Tsc, tsc, tsc...
    Dando uma olhadinha nas suas comunidades do Orkut, vi que você faz parte de uma intitulada: Je parle français(OFFICIEL). Tenha bastante "cuidado" porque muiiiiitas palavras estão grafada incorretamente já na apresentação daquela comunidade: seu francês vai continuar de "arto níver", como sua escrita e seu conhecimento cinematográfico!
    Mais sorte da próxima vez!

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  15. Eu gostei, o que vc usa antes de escrever essas coisas???

    Como Toy Story, só que com lixo reciclável, rsrs.

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  16. Acho que também me sinto assim muitas vezes. Não sei se você se sentia assim, ou se apenas é parte de sua observação o conto. Não interessa. É perspicaz. Quanto às questões gramaticais... pra isso sempre há jeito. Mas, pra falta de sensibilidade nata talvez não. Alguém perdeu muito tempo se correndo de inveja e falando sobre gramática ali atrás... rs. Acho que talvez o conto vá além da questão de ser usada como objeto sexual, ou possa assim ser interpretado, sentido, conforme quem o leia... muitas vezes somos usados (usadas principalmente, porque não posso deixar de ter meu ponto de vista feminino - não é feminista) como apenas um lugar pra dar amparo emocional e sexo quando formos para isso requisitadas. Mas, o nosso próprio sangue nas veias pouco conta. Não falar o que nos causa rebuliços por dentro pra manter o equilíbrio no mundo de outra pessoa, aprender que o outro é quem vai ter as rédeas da relação também no sexo.

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  17. Invejosos anônimos sempre irão existir, mas talento e sensibilidade iguais aos seus... isso é muito mais raro!
    Parabéns, fantástico o texto!!!

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